
Talvez Gênesis 1.26 seja contraditório para àqueles que não entendem, simplesmente por uma insuficiência hermenêutica que poderá levantar a hipótese de mais de um Deus.
Mas será que isso é uma dificuldade bíblica ou apenas uma limitação no entendimento da questão? É exatamente isso que veremos neste artigo.

Introdução
A Bíblia ensina categoricamente que existe apenas um Deus verdadeiro (Isaías 43.10), porém, em várias outras partes a Bíblia menciona outros deuses como Adrameleque e Anameleque (2 Reis 17.31), Baal e Asera (1 Reis 18.19), Dagom (1 Samuel 5.2), Moloque (Levítico 18.21) entre outros.
Em nenhum momento isso torna-se em uma contradição, pois quando faz menção de outros deuses, está se referindo à “falsos deuses” (Gálatas 4.8). Portanto, a questão não é a quantidade, mas a veracidade: verdadeiro Deus, somente um (Deuteronômio 6.4).
Problema
No entanto, existe um problema para muitos que leem a Bíblia e desavisadamente se deparam com textos como:
E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; e domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o gado, e sobre toda a terra, e sobre todo o réptil que se move sobre a terra.
Gênesis 1:26
Então disse o Senhor Deus: Eis que o homem é como um de nós, sabendo o bem e o mal; ora, para que não estenda a sua mão, e tome também da árvore da vida, e coma e viva eternamente,
Gênesis 3:22
Eia, desçamos e confundamos ali a sua língua, para que não entenda um a língua do outro.
Gênesis 11:7
Porque, ainda que haja também alguns que se chamem deuses, quer no céu quer na terra (como há muitos deuses e muitos senhores),
1 Coríntios 8:5
E três são os que testificam na terra: o Espírito, e a água e o sangue; e estes três concordam num.
1 João 5:8
Há àqueles que tentam explicar que o texto em questão (Gênesis 1.26) refere-se à Deus falando com os anjos (clique aqui e estude sobre os anjos), o que não tem amparo bíblico, visto que Gênesis 1.27 conclui dizendo que “à imagem de Deus o criou“.
Outros afirmam que Deus no plural apenas por uma figura de linguagem, o que também não se sustenta na Bíblia.
Qual é a resposta então?
Solução
Estes textos em nenhum momento se contradizem com a doutrina bíblica cristã, na realidade, só reforçam, dando pistas e evidências para a doutrina trinitariana ou da trindade (Leia mais).
O texto de Gênesis 1.26 trata a Deus no plural (‘Elohin), assim como em outros textos, por isso a concordância do “façamos“. Ou seja, o termo ‘Elohin é plural, e por uma questão gramatical, é utilizado o “fazer” também no plural.
No entanto, o fato do substantivo “Deus” ser plural, não significa que haja mais de um Deus sendo referido, é apenas uma maneira honrosa e majestosa de mencionar a Deus.
Isso pode ser explicado, por exemplo, quando em 1 Reis 1.11 Davi é chamado de senhor e este termo hebraico está no plural (outros textos que fazem da mesma forma Isaías 1.3; 19;4). Michael Brown explica:
Era comum para se referir à divindade no plural composto, e quando se fala de um proprietário ou de mestre, essa muitas vezes era a regra para falar dele em tais termos.
Respondendo às objeções judaicas a Jesus: objeções teológicas . Vol. 2. Grand Rapids, MI: Baker, 2003. 9
Outrossim, a doutrina da trindade, apesar de não estar explicitamente declarada na Bíblia, é vista por toda ela, tendo no texto em questão uma das suas mais poderosas evidências.
O contexto de Gênesis 1.26, indica um diálogo interpessoal divino que necessita de uma unidade de Pessoas na Deidade.
Análise Doutrinária Textual
Algumas evidências no Antigo Testamento corroboram com o texto, como por exemplo, os textos onde aparecem o “anjo do SENHOR” (hb. Yahweh). Este anjo é distinguido de outros anjos, é pessoalmente identificado como Deus, mas ao mesmo tempo distinto dEle (Gênesis 16.7-13; 18.1-21; 19.1-28).
Em Isaías 48.16; 61.1 e 63.910 o Messias fala. Veja que interessante, em uma ocasião Ele se identifica com Deus e o Espírito, mas em outra continua falando na primeira pessoa, mas distinguindo-se deste mesmo Deus e Espírito.
Já no Novo Testamento, as evidências da trindade são ainda mais contundentes.
O apóstolo João inicia seu evangelho com uma revelação:
No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus
João 1.1
O evangelista revela-nos que o Verbo entrou na história como Jesus de Nazaré, sendo Ele o único Deus que está ao lado do Pai. João em Apocalipse continua com sua doutrina afirmando que o Pai criou todas as coisas por meio de Jesus (Apocalipse 3.14) e que o Pai e Jesus são um (João 10.30).
Paulo também assevera seu consentimento à doutrina ao se referir a Jesus afirmando que tudo o que pode ser dito do Filho também pode ser dito do Pai (Colossenses 2.9).
Quanto ao Espírito Santo, Jesus disse:
E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre
João 14.16
Quando o Espírito Santo é mencionado aqui, o termo utilizado é “allon parakleton“, que significa “do mesmo tipo que Ele mesmo”, ou seja, que tudo o que pode ser afirmado da sua natureza e da natureza do Pai, pode ser falado da natureza do Espírito.
Conclusão
Sendo assim, a pluralidade do termo façamos pode ser solucionada pelas seguintes argumentações:
- Por uma questão de concordância gramatical;
- Por uma iniciação da doutrina da trindade;
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